A alguns dias eu estava conversando com o Claudemir(do grupo de Museus), sobre a palestra que nós vimos sobre religião e ciência. Conversamos durante quase uma hora, sobre basicamente a diferença entre um padre em uma missa e um palestrante de um complexo assunto da área das ciências para uma plateia leiga.
Dentro dessa discussão, durante todo o tempo eu defendi(e defendo) que o formalismo matemático, se faz necessário independetemente do público, pois na minha opinião, a diferença entre ciência e religião, mais especificamente física e religião, está na capacidade dos modelos físicos de poder prever o que irá acontecer mediante várias hipóteses colocadas.
Mas aí surgiu um grande problema, uma plateia leiga, se interessaria por inúmeras equações, variáveis, gráficos e intermináveis tomadas de dados? Na minha opinião, se a pessoa se disponibiliza, para ver uma palestra de um assunto complexo, sendo que ela é leiga no assunto, ela vai ter a capacidade de perceber que aquilo é realmente difícil, e para que ela possa compreender melhor tudo aquilo, ela irá ter que estudar muito.
Eu não concordo com o que acontece muitas vezes nos museus de ciência, boa parte deles refere-se aos experimentos ali colocados, como instrumentos de comunicação de um determinado fenômeno. Em outras palavras ele ilustra uma situação física muitas vezes de forma lúdica, com grande perda conceitual, há uma preferência na perda do conceito, para o ganho na comunicação. Será que mostrar sem explicar de forma mais rigorosa o que está acontecendo, não é incentivar a divulgação de um conceito errado? Tudo bem que se colocarmos uma lousa, e começarmos a fazer deduções matemática nelas, o público dos museus ia diminuir vertiginosamente. Mas eu acho que é necessário um maior formalismo nesses espaços, para que um conceito errado não seja transmitido.
O que vocês acham?
Olá Guilherme.
ResponderExcluirGostaria de retomar primeiro as diferenças entre religião e ciência (física, no caso). Creio que há um deslocamento de critérios, antes de uma capacidade diferente de prever coisas. A ciência trabalha sobre hipóteses atendendo a critérios de precisão e controle. O que há em comum em diversas teorias científicas são técnicas, operações, imagens de um tipo específico: capazes de serem precisamente controladas num mecanismo especialmente criado para sua "descoberta".
Já a religião, e aqui me limito a falar principalmente sobre o cristianismo, pois existem religiões orientais de pensamento completamente diferente das ocidentais, está focada em outro aspecto do pensamento. Ela está estritamente relacionada com problemas de cunho ético/moral. Comportamentos, elementos cotidianos, vida comum são problemas das religiões. Política.
A ciência muitas vezes se distancia deste aspecto da vida humana. Entretanto, ela contribui no presente para a produção de comportamentos efetivos em nossas vidas. Por desempenhar a solução de problemas de controle, a ciência entra em nossas vidas como produtora de comportamentos. Exemplo: somos constantemente filmados nas ruas, em nome da nossa segurança. A medicina, por meio de pesquisas, exige que comamos tais alimentos e nos proíbe de comer quais, por serem cancerígenos. Quando um físico fala sobre "multiversos", não há controvérsias entre os leigos no assunto. Ele é uma autoridade, mesmo que soe absurda a idéia de muitos universos na minha concepção de mundo.
Enfim, creio que existe um deslocamento de critérios, mas também creio que a ciência opera de maneira muito semelhante à religião.
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ResponderExcluirInfelizmente terei que discordar de você Guilherme com relação ao formalismo matemático e a perda conceitual ocorrida em favor da comunicação nos Museus de Ciência.
ResponderExcluirExistem dois aspectos que devemos analisar, o primeiro deles é que o público que visita um museu é muito diverso e variado, sendo assim a comunicação é essencial para que todos ali presentes consigam entender o que se passa em determinado fenômeno; cada um traz uma bagagem, alguma idéia a respeito de um fenômeno ou uma visão de mundo que deve ser considerada para que o conceito ali trabalhado seja mais facilmente entendido ou ampliado.
E por fim outro aspecto importante é que a formalização matemática não é e nem deve a única maneira de se conhecer um conceito ou compreender uma idéia física.
Para a nossa próxima discussão seria interessante entender o papel da mediação em Museus de Ciência e sobre a transposição didática que é realizada pelos chamados monitores.
Olha william!
ResponderExcluireu concordo com você que esses aspectos devem ser levados em consideração. O meu ponto de vista, é o de se vale a pena você perder conceito, para mostrar uma situação física as pessoas.
Na minha opinião, por mais abstrata que uma equação possa ser, se você encaminhar o assunto, ela mostra a teoria de forma clara. A matemática e a física estão unidas. Tanto a matemática evoluiu por causa da física, como a física evoluiu por causa da matemática. Eu acho que se as pessoas querem entender a física de fato, elas tem que querer entender essas equações.
Se não, na cabeça das pessoas as coisas acabam ficando complicadas, e fica difícil fazer um "link", entre a física da escola, a física da televisão e a física dos museus.
Para encerrar, eu acho que os museus são importantes, e justamente por ter esse lado lúdico, e mostrar para as pessoas as idéias ali nos experimentos. Na minha opinião, valeria a pena se aprofundar mais, e chegar em equações.
Já ia me esquecendo, então william você poderia fazer esse poste sobre mediação em museus. Você como monitor da estação ciência, poderia dar um parecer muito interessante para todos que acessam o blog.
ResponderExcluirSeria uma ótima contribuição teórica para o blog, além de alimentar ainda mais nossas discussões.
Guilherme outras perguntas com relação ao que a gente esta comentando aparecem,como:Qual é o papel da matemática no ensino da Fisica?Pois da forma que você falou parece que as duas estão inerligadas a tal ponto que são as mesmas coisa ou muito dependentes.Existe a possibildade de se ensinar fisica com pouco aparato matemático?.E outro ponto é que devido as caracteristicas dos museus não existe tempo habil para tratamos sobre equações.
ResponderExcluirBem eu quero manter meu foco no museu. Das questões levantadas pelo Guilherme a que mais me incomodou foi quanto ao formalismo nos museus, eu acho que apresentar experimentos sem todo o formalismo matemático não causa uma perda tão significativa do conceito que se quer transmitir, mas sem duvida há perdas. O que temos que mensurar é se essas perdas são maiores que o fato de mostrar e comunicar algo que aquela pessoa talvez nunca tenha visto, ou se essa mesma pessoa tenha que conhecer o fenômeno de forma profunda e completa de uma vez só, mas isso esta diretamente ligada ao fato de como devemos pensar a função dos centros e museus de ciência, qual é essa função?
ResponderExcluirEu defendo que a função de um museu não é ensinar, esse papel é da escola, mas sim mostrar, apresentar e deixar o visitante intimo de um fenômeno, despertar nele a vontade de querer buscar as teorias que envolvem aquilo que lhe é apresentado, isso passa sem duvida pela forma de como tudo isso é apresentado na exposição, aí o papel fundamental do monitor, mas esse, não deve, e não pode estar sozinho, é fundamental que a relação entre museu e escola seja bem estreita de forma que o professor possa mostrar e desenvolver as teorias com seu formalismo matemático completo fazendo assim o museu como mais uma ferramenta de grande utilidade para o ensino. Mas e os visitantes espontâneos? Para esses eu insisto no que queremos como papel do museu, e novamente digo: eu acho que o papel principal do museu é despertar a vontade nas pessoas de conhecer mais, se aprofundar de diversas formas, mas ai também o monitor novamente é o ator principal, pois este deve ter esse embasamento matemático para que possa comunicar ou mostrar o “caminho” para esse tipo de visitante.
Bem e quanto ao comentário que o Willian fez sobre Matemática e Física estar sendo tratada como a mesma coisa pelo Guilherme, eu acho que não são a mesma coisa, mas uma é fundamental no desenvolvimento da outra, uma vez que a matemática é a linguagem da física para traduzir os fenômenos da natureza, assim não são a mesma coisa mas estão extremamente ligadas.
Mas fica uma pergunta será que quem não domina todo o formalismo matemático não pode conhecer e entender fenômenos físicos?
Gabriel Steinicke.
É interessante que há ideias bastante diferentes.
ResponderExcluirNão gostaria de defender um ponto de vista, mas levantar algumas questões.
De fato, é bem provável que se os museus científicos derem uma ênfase mais formal o público diminuirá. Entretanto acho que muitos destes centros de divulgação científica fazem na verdade uma propaganda falsa do que venha a ser ciências, mais especificamente física.
Eu costumo frequentar tais ambientes, como Catavento, Estação Ciência, Museu da Zoologia... e às vezes sinto que os monitores não estão bem preparados para receber os diversos públicos; é preferível saber apenas o que agrada a maioria.
Um fato que ocorreu comigo e que gostaria de compartilhar. Numa ocasião fui com a minha namorada no Catavento e andando na seção de Astronomia, um monitor estava explicando para minha namorada sobre a atração gravitacional e disse que quanto maior a distância entre os corpos menor é a força entre eles. então ela perguntou como era este decaimento. Não sei bem dizer se o rapaz não havia entendido-a ou se ele a menosprezou; só sei que ele não disse o que ela queria saber. Depois ela perguntou o motivo de não sentirmos tal atração quando nos aproximamos de objetos, e novamente ele não soube responder.
O que será que está errado aí?
Como um de vocês afirmaram, o público é vasto e acho que os monitores precisam estar preparados para qualquer situação. Naste caso, na minha opinião, faltou ele interpretar o que a famosa expressão de Newton nos fornece.
Acho que muitos não passam o que realmente é a ciência: há experimentação, desenvolvimento, filosofia, formalização, sistematização e aplicação, além de várias outras coisas.
O mais importante é que não deixemos os centros culturais serem meras reproduções de 'Programas da Eliana' e afins que só se preocupam com a parte lúdica da história.
As cortinas precisam ser abertas e as pessoas devem de fato conhecer a ciência do jeito que ela é: dificuldades, conflitos, crises, satisfações, facilidades, benefícios...
Bom, os dois últimos postes enfatizam o poder central e importante que o monitor tem dentro de um museu de ciências.
ResponderExcluirEu achei muito legal seu comentário Gabriel, acho que você por se ruma pessoa ativa nesse ramo a tanto tempo trouxe uma importante contribuição a essa discussão ao expor sua opinião.
Vou dar a minha opinião sobre a última questão levantada pelo Gabriel. Eu acredito que para conhecer um fenômeno, basta a observação e a constatção de que ele acontece sobre algumas circunstâncias observáveis.Agora para entender eu considero o formalismo fundamental. Vou colocar um exemplo, pressão é a força dividida pela área certo?
Você pode mostrar um prego a uma pessoa, pedir para que ela coloque um dedo na ponta, e outro na cabeça do prego, e induzila a acreditar que pressão depende de área. Mas se a pessoa perguntar, se poderia ser área ao quadrado, área ao cubo?
Tem que haver recursos dentro do museu, um lugar para o qual o monitor possa recorrer, e mostrar a evolução desse conceito, quem chegou nessa lei, as pessoas que pensaram nisso.
Muitas vezes os museus tem esses recursos para alguns experimentos, mas esses recursos simplesmente não são explorados.
No arte e ciência no parque, nós tinhamos algumas plaquinhas com explicações, que poderiam nos ajudar a explicar algumas situações para os interessados.
Sobre o comentário do Diogo, eu concordo com boa parte do que ele escreveu, e sobre o que ele falou dos monitores, uma possibilidade, seria colocar os monitores em algum horário para discutirem sobre os experimentos. Dessa forma eles poderiam se preparar melhor para explicar par ao público.
Finalizando, talves a minha teimosia no formalismo matemático torne o evento mais chato, mas eu acho que a ciência tem esse lado metódico, e as pessoas vão aos museus e acabam não conhecendo esse lado.
Isso poderia ajudar todos a enchergar o cientista como um humano, e não como um gênio, inventor ou pior ainda, como um cientista maluco, como muitas pessoas gostam de colocar.
Concordo com o Guilherme, que o museu de ciências é diferente de um espetáculo mágico, que tem outros objetivos. Mas a discussão da teoria física relativa ao fenômeno observado contem muito mais do que apenas fórmulas matemáticas!
ResponderExcluirAcho que a história da física nos mostra que a evolução dos conceitos foi feita, no início, de forma qualitativa, relacionando modelos e a observação de fenômenos e experimentos, depois semi-quantitativa, quantitativa, com a medida, depois de forma algébrica, depois expressa através do cálculo diferencial e integral...
Acredito que o caminho que cada um percorre no aprendizado da física é um pouco parecido: primeiro descobrimos que objetos eletrizados podem se atrair ou repelir, e podemos representar estas atrações e repulsões por meio de flechinhas; experimentando esta força em diferentes distâncias, vemos que ela diminui com a distância, e portanto podemos representar a força com flechinhas maiores ou menores; depois podemos aprender que o objeto eletrizado "cria" um campo ao seu redor, que "influencia" o comportamento de outros objetos eletrizados, que por sua vez pode ser representado com flechas por um "objeto eletrizado teste"; aprendemos depois que podemos substituir as flechas de diferentes tamanhos por linhas contínuas, e ai onde as flechas seriam menores, temos uma densidade menor de linhas;...
Toda essa descrição envolve a experimentação e a representação simbólica, mas não envolve, até este ponto, equações...
Com relação ao monitor, acredito que temos mesmo um problema, de não sabermos como prepará-los para atender públicos variados. Mas quando isto tiver mudado, seria interessante mesmo que o material apresentado fosse versátil, que pudesse ser escolhido pelo monitor (com "plaquinhas" diferentes, ou vídeos diferentes, que o monitor escolhesse, a depender do público!).
Nas artes e nas ciências humanas me parece que já avançamos mais, pois tenho visitado exposiçòes em que aprendo muito - talvez precisemos, nas ciências, aprender com eles...